A música brasileira é uma das maiores expressões artísticas e culturais do nosso país. São vários movimentos (Bossa Nova, Tropicalismo, Jovem Guarda, Festivais...) que escreveram páginas fantásticas e renderam um acervo maravilhoso de canções. A MPB, a música nordestina, o forró, o rock dos anos 80, a música sertaneja de raiz, o axé, o estilo chamado de brega são alguns gêneros responsáveis por letras e melodias eternizadas em nossas memórias. Mutantes, Novos Baianos e os Doces Bárbaros são alguns grupos já suficientes para um longo período de estudos e descobertas sobre música e história musical. E já há algum tempo é comum presenciarmos debates sobre a decadência da música nacional. Não só referente as letras, mas também á atitude. O Brasil vive há algum tempo uma verdadeira efervescência
política, econômica, social e cultural, com escândalos na Petrobrás, Mensalão,
racismo no futebol, manifestações de diversas causas no país, crescimento das
redes sociais, modismos como a Selfie, falta de água, violência, impunidade, aumento de realitys shows na TV, etc. E
a música brasileira durante este período não fez questão de abordar tais
assuntos (talvez por desinteresse dos novos compositores, por falta de familiaridade com esse tipo de assunto ou simplesmente por considerar que hoje não haja mais espaço para esse tipo de discussão na música nacional) e as letras da maioria dos hits retratam histórias
românticas, desilusões amorosas, letras de duplo sentido, outras carregadas de
palavrões ou refrões repetitivos de fácil memorização. Provavelmente visando o
lado comercial. Lógico que muita coisa boa que foge desta listagem citada acima
foi gravada e lançada no mercado fonográfico brasileiro, mas na maioria dos
casos não alcançou a merecida execução nas rádios e reconhecimento do público. Vossa
Excelência dos Titãs é um dos poucos exemplos de canção lançada nestes últimos tempos que retrata ou cutuca o atual
momento político do país. A música brasileira estava carente de um disco que
soasse como uma crônica atual do país. Para lembrar que músicas de protesto,
inteligente, com conteúdo, fazem parte do cancioneiro nacional. É só pesquisar.
E para mostrar que ainda é possível fazer este tipo de música. Principalmente
para as novas gerações de músicos e para a juventude que consome os produtos
como CDs e DVDs comercializados na atualidade ou disponibilizados na internet. E este disco veio em 2014. Como
já foi amplamente divulgado pela mídia televisiva, revistas, jornais impressos, programas de rádio e principalmente via internet, os Titãs estão com disco novo na praça:
Nheengatu é o nome do último álbum da banda paulistana. E o quarteto (Branco
Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto) remanescente da formação
clássica do grupo foi ousado na composição das canções inéditas deste novo CD.
Em plena época em que músicas populares de artistas oriundos de ritmos como
funk, sertanejo universitário, axé, pagode, samba, pop e baladas românticas e a sofrência dominam há muitos meses o ranking de execuções em rádios pelo Brasil, lotam
shows pelo país inteiro e recebe total apoio dos programas televisivos na TV
aberta e na fechada, os Titãs gravaram um disco barulhento, com letras críticas
e cutucando várias feridas expostas em nosso país na atualidade. Indo
na contramão do que faz sucesso atualmente na música brasileira. Nheengatu é
um baita disco na minha humilde opinião. Comprei assim que foi lançado. Já
considero um clássico do rock nacional. Comparado pela crítica especializada em
música à Cabeça Dinossauro que dispensa comentários. E talvez tal
reconhecimento só venha daqui a algumas décadas. Considerando o que faz sucesso hoje, não são músicas para tocar nos
programas de rádio (infelizmente, pois mereciam), dificilmente serão temas de alguma
novela, que é um recurso que ajuda na divulgação. Mas com certeza canções como
Fardado, Pedofilia, Cadáver sobre cadáver, Mensageiro da Desgraça, Quem são os
animais, República dos Bananas, Senhor, Fala Renata, Chegada ao Brasil, entre
outras deste disco irão ser temas de redação em concursos públicos, algumas de suas frases
serão usadas em atividades e trabalhos escolares, em provas do Enem e
similares, a maioria destas canções em muitas situações deverão ser usadas como
música de fundo de reportagens jornalísticas e em trilhas sonoras de filmes
nacionais pelo seu rico conteúdo. São
músicas que permanecerão atuais por muito tempo, como Racismo é burrice do
Gabriel O Pensador, Admirável Gado Novo do Zé Ramalho, Que país é este da
Legião Urbana, Desordem dos próprios Titãs e tantas outras. O certo é que os
Titãs foram muito felizes nestas composições e seria ótimo que mais pessoas
tivessem a oportunidade de ouvi-las. Este disco merecia receber os principais
prêmios de disco de rock nacional entre 2014 e 2015. Mas nem sempre os melhores discos
são os premiados. Por exemplo, Sacos Plástico disco anterior dos Titãs recebeu
o Grammy Latino de melhor disco de rock, mesmo sendo muito contestados pela
crítica e por muitos fãs da banda, e recentemente os deuses da música tiraram o
merecido Grammy do caminho do disco Nheengatu, o prêmio ficou com o tremendão
Erasmo Carlos que também está com um trabalho bastante elogiado. Mas isso não apaga o brilho do Nheengatu. E agora a
expectativa é sobre a gravação do DVD ao vivo prevista para acontecer no
próximo dia 24 de Abril, uma grande oportunidade para além de ouvir, assistir e
curtir as performances titânicas acompanhadas pelo baterista Mário Fabre que
deu um gás novo ás baquetas e que juntos estão encantando multidões pelo Brasil
afora. Esse dvd deve agradar em cheio os amantes do rock nacional, por trazer um repertório pesado, casando as músicas do disco atual com clássicos dos discos mais pesados da banda. Em plena época que artistas
contemporâneos como Roberto Frejat, Humberto Gessinger e Paula Toller deram um tempo
em suas bandas tradicionais e foram
realizar trabalhos solos, os Titãs continuam fortes após mais de 30 anos de
estrada permanecendo unidos na banda e conciliando com trabalhos paralelos:
Branco Mello durante um bom tempo esteve no Encontro com Fátima Bernardes
conduzindo pautas relativas à música em uma ótima coluna musical; Paulo Miklos
está em dois curtas “Dá licença de contar” onde interpretará Adoniram Barbosa e
“Quando parei de me preocupar com canalhas”, apresentou um programa, cantou Noel Rosa com o Quinteto em Preto e Branco, participou do programa Extraordinários; Sérgio Britto lançou recentemente
o ótimo disco solo “PURABOSSANOVA”, indicado pra quem gosta de música boa e também desenvolveu um projeto como apresentador e
Tony Bellotto continua como colunista em jornais, escrevendo livros e como
apresentador de um ótimo programa no Canal Futura. Muito foi dito sobre o fato da banda ter saído em turnê comemorativa do Cabeça Dinossauro e ter sido estimulada a criar o Nheengatu. Sendo assim o desejo é que saiam em turnês de aniversário do Jesus, O Blésq Blom, Titanomaquia, Acústico, TAMTA... e façam novos discos de inéditas. Então fica a dica para aqueles que desejam
escutar um cd e em breve um dvd ao vivo que soa como uma crônica do atual momento do Brasil. E que esse
trabalho dos Titãs inspire o rock nacional para que volte para os trilhos da
contestação. O pulso ainda pulsa. A música e a história agradecem.
Fotos: Maurício Costa
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