Uma câmera na mão e um breve conhecimento na cabeça. Ou quase isso...

Parafraseando Glauber Rocha:"Uma câmera na mão e um breve conhecimento na cabeça". Ou quase isso.../Desde Fevereiro de 2015.

19 março 2015

CD NHEENGATU DOS TITÃS- UMA CRÔNICA MUSICAL DO PANORAMA DO BRASIL NA ATUALIDADE (ROCK NACIONAL)



A música brasileira é uma das maiores expressões artísticas e culturais do nosso país. São vários movimentos (Bossa Nova, Tropicalismo, Jovem Guarda, Festivais...) que escreveram páginas fantásticas e renderam um acervo maravilhoso de canções. A MPB, a música nordestina, o forró, o rock dos anos 80, a música sertaneja de raiz, o axé, o estilo chamado de brega são alguns gêneros responsáveis por letras e melodias eternizadas em nossas memórias. Mutantes, Novos Baianos e os Doces Bárbaros são alguns grupos já suficientes para um longo período de estudos e descobertas sobre música e história musical. E já há algum tempo é comum presenciarmos debates sobre a decadência da música nacional. Não só referente as letras, mas também á atitude. O Brasil vive há algum tempo uma verdadeira efervescência política, econômica, social e cultural, com escândalos na Petrobrás, Mensalão, racismo no futebol, manifestações de diversas causas no país, crescimento das redes sociais, modismos como a Selfie, falta de água, violência, impunidade, aumento de realitys shows na TV, etc. E a música brasileira durante este período não fez questão de abordar tais assuntos (talvez por desinteresse dos novos compositores, por falta de familiaridade com esse tipo de assunto ou simplesmente por considerar que hoje não haja mais espaço para esse tipo de discussão na música nacional) e as letras da maioria dos hits retratam histórias românticas, desilusões amorosas, letras de duplo sentido, outras carregadas de palavrões ou refrões repetitivos de fácil memorização. Provavelmente visando o lado comercial. Lógico que muita coisa boa que foge desta listagem citada acima foi gravada e lançada no mercado fonográfico brasileiro, mas na maioria dos casos não alcançou a merecida execução nas rádios e reconhecimento do público. Vossa Excelência dos Titãs é um dos poucos exemplos de canção lançada nestes últimos tempos que retrata ou cutuca o atual momento político do país. A música brasileira estava carente de um disco que soasse como uma crônica atual do país. Para lembrar que músicas de protesto, inteligente, com conteúdo, fazem parte do cancioneiro nacional. É só pesquisar. E para mostrar que ainda é possível fazer este tipo de música. Principalmente para as novas gerações de músicos e para a juventude que consome os produtos como CDs e DVDs comercializados na atualidade ou disponibilizados na internet. E este disco veio em 2014. Como já foi amplamente divulgado pela mídia televisiva, revistas, jornais impressos, programas de rádio e principalmente via internet, os Titãs estão com disco novo na praça: Nheengatu é o nome do último álbum da banda paulistana. E o quarteto (Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto) remanescente da formação clássica do grupo foi ousado na composição das canções inéditas deste novo CD. Em plena época em que músicas populares de artistas oriundos de ritmos como funk, sertanejo universitário, axé, pagode, samba, pop e baladas românticas e a sofrência dominam há muitos meses o ranking de execuções em rádios pelo Brasil, lotam shows pelo país inteiro e recebe total apoio dos programas televisivos na TV aberta e na fechada, os Titãs gravaram um disco barulhento, com letras críticas e cutucando várias feridas expostas em nosso país na atualidade. Indo na contramão do que faz sucesso atualmente na música brasileira. Nheengatu é um baita disco na minha humilde opinião. Comprei assim que foi lançado. Já considero um clássico do rock nacional. Comparado pela crítica especializada em música à Cabeça Dinossauro que dispensa comentários. E talvez tal reconhecimento só venha daqui a algumas décadas. Considerando o que faz sucesso hoje, não são músicas para tocar nos programas de rádio (infelizmente, pois mereciam), dificilmente serão temas de alguma novela, que é um recurso que ajuda na divulgação. Mas com certeza canções como Fardado, Pedofilia, Cadáver sobre cadáver, Mensageiro da Desgraça, Quem são os animais, República dos Bananas, Senhor, Fala Renata, Chegada ao Brasil, entre outras deste disco irão ser temas de redação em concursos públicos, algumas de suas frases serão usadas em atividades e trabalhos escolares, em provas do Enem e similares, a maioria destas canções em muitas situações deverão ser usadas como música de fundo de reportagens jornalísticas e em trilhas sonoras de filmes nacionais pelo seu rico conteúdo.  São músicas que permanecerão atuais por muito tempo, como Racismo é burrice do Gabriel O Pensador, Admirável Gado Novo do Zé Ramalho, Que país é este da Legião Urbana, Desordem dos próprios Titãs e tantas outras. O certo é que os Titãs foram muito felizes nestas composições e seria ótimo que mais pessoas tivessem a oportunidade de ouvi-las. Este disco merecia receber os principais prêmios de disco de rock nacional entre 2014 e 2015. Mas nem sempre os melhores discos são os premiados. Por exemplo, Sacos Plástico disco anterior dos Titãs recebeu o Grammy Latino de melhor disco de rock, mesmo sendo muito contestados pela crítica e por muitos fãs da banda, e recentemente os deuses da música tiraram o merecido Grammy do caminho do disco Nheengatu, o prêmio ficou com o tremendão Erasmo Carlos que também está com um trabalho bastante elogiado. Mas isso não apaga o brilho do Nheengatu. E agora a expectativa é sobre a gravação do DVD ao vivo prevista para acontecer no próximo dia 24 de Abril, uma grande oportunidade para além de ouvir, assistir e curtir as performances titânicas acompanhadas pelo baterista Mário Fabre que deu um gás novo ás baquetas e que juntos estão encantando multidões pelo Brasil afora.  Esse dvd deve agradar em cheio os amantes do rock nacional, por trazer um repertório pesado, casando as músicas do disco atual com clássicos dos discos mais pesados da banda. Em plena época que artistas contemporâneos como Roberto Frejat, Humberto Gessinger e Paula Toller deram um tempo em suas bandas tradicionais  e foram realizar trabalhos solos, os Titãs continuam fortes após mais de 30 anos de estrada permanecendo unidos na banda e conciliando com trabalhos paralelos: Branco Mello durante um bom tempo esteve no Encontro com Fátima Bernardes conduzindo pautas relativas à música em uma ótima coluna musical; Paulo Miklos está em dois curtas “Dá licença de contar” onde interpretará Adoniram Barbosa e “Quando parei de me preocupar com canalhas”, apresentou um programa, cantou Noel Rosa com o Quinteto em Preto e Branco, participou do programa Extraordinários; Sérgio Britto lançou recentemente o ótimo disco solo “PURABOSSANOVA”, indicado pra quem gosta de música boa e também desenvolveu um projeto como apresentador e Tony Bellotto continua como colunista em jornais, escrevendo livros e como apresentador de um ótimo programa no Canal Futura.  Muito foi dito sobre o fato da banda ter saído em turnê comemorativa do Cabeça Dinossauro e ter sido estimulada a criar o Nheengatu. Sendo assim o desejo é que saiam em turnês de aniversário do Jesus, O Blésq Blom, Titanomaquia, Acústico, TAMTA... e façam novos discos de inéditas. Então fica a dica para aqueles que desejam escutar um cd e em breve um dvd ao vivo que soa como uma crônica do atual momento do Brasil. E que esse trabalho dos Titãs inspire o rock nacional para que volte para os trilhos da contestação. O pulso ainda pulsa. A música e a história agradecem.

Fotos: Maurício Costa

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