No ano de 1995 estive em Pesqueira/Pernambuco com o médico
Dr. Joaquim Souto Filho para acompanhar um grande evento de teatro que acontecia
na cidade. Além do envolvimento das pessoas com a cultura local, outro fato me
chamou a atenção: a forte crise hídrica que a cidade atravessava. Nas casas que
fui às pessoas tinham reservatórios de água em casa, ás vezes em um cômodo da
residência específico para tal armazenamento.
O rio que abastecia a cidade estava seco. E nas ruas havia enormes filas
de moradores aguardando por baldes com água fornecidos por carros pipas. E nas
casas havia uma organização das famílias para economia de água. Mesmo acompanhando
pela TV as notícias sobre a seca do Nordeste, fiquei na época perplexo em
presenciar estas cenas do sertão nordestino. Principalmente por que naquele
período tínhamos água em abundância no Rio Capivarí.
De lá para cá se passaram vinte anos, e as cenas que temos
presenciado nas ruas de Chapada do Norte MG, são muito semelhante ás de
Pesqueira ou á aquelas que a televisão repetia com freqüência sobre a seca no
Nordeste: enormes filas de chapadenses aguardando para conseguir um balde
d’água, relatos de moradores sobre as dificuldades enfrentadas, muita
preocupação á respeito de qual será a solução para o problema, abusos e cenas
de desrespeito com o próximo, cansaço, desânimo.
Repete-se no município de Chapada do Norte MG a crise causada
pela falta de água, e seus moradores tem vividos dias de angústia, desespero,
incredibilidade e sofrimento: o Rio Capivarí está seco, a estiagem dura já por
um longo período de meses, o forte calor impera neste período, a Copanor,
empresa responsável pela distribuição da água encontra sérias dificuldades para
distribuir água, e por enquanto soluções ainda não apareceram.
Há bairros onde os moradores têm relatado que não receberam
água em suas residências após o término da Festa de Nossa Senhora do Rosário
dos Homens Pretos que se encerrou em 12 de Outubro.
Paliativamente foram distribuídas em alguns bairros da cidade caixas d’água de dez mil litros cada uma e os moradores organizam-se em
filas para pegar água. Há registros de pessoas nas filas durante o dia, tarde,
noite e madrugada, desde crianças á idosos. Alguns proprietários de poços
artesianos têm abastecido seus lares e também de vizinhos, amigos e familiares.
Outros têm buscado água em seus próprios veículos. Outras famílias têm
recorrido a Bica e lá uma multidão se organiza para trazer alguns litros e em
outro bairro uma torneira tem sido a salvação de vários moradores. Por outro
lado há famílias compostas por idosos, por deficientes, por vítimas de AVC, acamados por outros males e
outros grupos que não possuem condições de sair de casa para buscar água. Para
estas o tormento é muito maior. E um dos recursos encontrado é pagar para que
alguém faça o serviço. O sofrimento também é enorme para famílias que não possuem
caixas ou vasilhames para armazenamento e que viviam usando a água que saía da
torneira.
Na reunião da Câmara de Vereadores realizada em 03 de
Novembro houve a participação de várias pessoas em busca de informações sobre
quais medidas seriam tomadas para encontrar uma solução para o problema. Cada
vereador relatou o que desenvolveu até agora para amenizar a crise. Mas os
presentes queriam ouvir mais. Um grupo de manifestante via WhatsApp organizou
um protesto para acontecer durante a reunião, mas a Polícia Militar foi chamada
e compareceu ao local para acalmar os ânimos. Mesmo assim após o fim da reunião
houve vaias e pedidos para que soluções sejam encontradas o mais rápido
possível.
Os presentes na reunião queriam que o poder público apresentasse
medidas emergenciais para amenizar a crise hídrica e que providenciasse carros
pipas para atender a população que tanto sofre. Mas segundo informações
repassadas na reunião isto não é possível no momento, considerando que o
município atravessa também uma crise financeira forte.
E assim a cidade vai vivendo dias de desespero, dificuldades
e muito sofrimento. Problema que também atingiu alguns distritos. E a pergunta
fica no ar: até quando a população chapadense viverá constantemente com a falta
de água?
Fotos de usuários do WhatsApp e Facebook
Fotos: Maurício Costa